sábado, 15 de julho de 2017

A VOZ DE UM PÁSSARO PRESO

Longe da minha floresta
Trancado numa gaiola
Nem folha de castanhola
Avisto pela uma fresta
Não fiz mais uma seresta
Me lembrando de voar
Se ninguém vem me soltar
Tempero minha garganta
Passarinho preso canta
Porque não sabe chorar

Passo toda madrugada
Num pesadelo medonho
Me alegro quando sonho
Voando com a passarada
Liberto sem sofrer nada
Prefiro não acordar
Pra nesta prisão ficar
A vida não adianta
Passarinho preso canta
Porque não sabe chorar

Ao invés de voar pulo
Numa gaiola trancado
Me sinto desesperado
O bocado que engulo
Me dar raiva fico fulo
Sinto fel no paladar
Me solte pra procurar
Aquilo que me adianta
Passarinho preso canta
Porque não sabe chorar

O meu coração soluça
Quando vejo o pedrador
Fingindo que tem amor
É só uma carapuça
A dor no peito aguça
Se ele se aproximar
Ah quem me dera encontrar
Liberdade que garanta
Passarinho preso canta
Porque não sabe chorar

Jesus dê compreensão
A quem prende passarinho
Deixe construir o ninho
E voar na amplidão
Catar sementes no chão
E no espaço soltar
Feliz a cantarolar
Lubrificando  garganta
Passarinho preso canta
Porque não sabe chorar.

HELENA BEZERRA.



segunda-feira, 10 de julho de 2017

O OLHAR



Os olhos são as janelas
Refletindo linda luz
Agem como sentinelas
Que o seu dono conduz

O corpo é receptor
De excelente emoção
E o olhar transmissor 
Do que tem no coração

O olhar é verdadeiro
Nada esconde tudo diz
Se o dono é trapaceiro
Ou tem a vida feliz

É recurso não verbal
De muita sinceridade
É declarador do mal
E também da amizade

Um olhar contemplativo
De longe emite sinais
Comunicador ativo
Das causas especiais

Investigando o olhar
O mistério é desvendado
Não pode se ocultar
Um interior manchado

Quem olhar com transparência 
Contempla realidade
Exposta na violência 
Da cruel humanidade

Olhe no olho sincero
Sem transferir o olhar
É o olho que espero
Para poder contemplar.

HELENA BEZERRA

quarta-feira, 5 de julho de 2017

DOENÇAS DE MATUTO

Seu doutô eu vim dizer
Qui na sumana qui vem
Eu meus fi e a muié
Qui tá duente tombém
Vem tudo contá duença
Pruque é grande a sofrença
Qui minha famia tem

É inspinhela caída
Frieira e passamento
Moleira mole quebranto
Do lado esquentamento
Juizo incriziado
Pereba bucho quebrado
E intupição de vento

Pano branco nó nas tripas
Muita remela nos zói
Calo seco dor na pá
Berruga seca e dordói
Impinge e estalicido
Bicho de pé imbutido
Tanto coça cumo dói

Uma tosse de cachorro
E na guela um intalo
Tem bico de papagai
E um esporão de galo
Um tal estopor muafo
A perna com um triafo
E no calcanhar um calo

Os óios inuviados
E uma dor nas cadeira
Xiliqui e veia quebrada
Vista cansada boqueira
Um jeito no espinhaço
Maria Preta no braço
Mau cheiro na suvaqueira

Difrusso e tosse braba
No coipo um frivião
O pau da venta intupido
Na guela fumigão
É duro o pé da barriga
Curuba me dar fadiga
Farnizim e comixão

Unheiro dor de viado
Dor na pá e pé inchado
Macacôa mal do roda
Cobreiro dente furado
Izipa braba duendo
O chulé no pé fedendo
Os zuvido estourado

Das ôtas tou isquicido
Amean trago Maria
Ela de tudo se lembra
Pra vê se o doutor pudia
Curar nós dessa duença
Pruque é tanta canzença
Chega me dá agonia.

Assim falou o doutor
Remédio não vou passar
Também não traga Maria
Primeiro vou estudar
Os nomes destas doença
E com muita paciença
Cada uma investigar.

HELENA BEZERRA.