sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

                 MATUTO  NA CAPITÁ

No sítio das cajaranas
Bem perto de Cuxixó
Três famias residia
Dominadas por Chicó
Qui era o chefe do clã
Bruto qui fazia dó

Mascava fumo boró
Im todo canto cuspia
E cono matava um galo
Os ovo dele ingulia
Todo mundo tinha mêdo
Por isso lhe obidicia

Tinha uma prole de quinze
Tudo ia pru roçado
No meio deles Zé Novo
Qui si dizia letrado
Seu sonho era cuincer
A capitá do estado

Dispôs qui fêz vinte e dois
Vendeu safra de aigudão
Impacotou o dinheiro
Deu a parte do patrão
Comprou passage e seguiu
Num ondu de lotação

Chegou na cidade grande
Achou tudo diferente
Ficou todo apavorado
Cum carro e cum munta gente
Sem distino se sentou
Na ponta de um batente

Sintiu fome e num sabia
Aonde tinha cumer
Se levantou e saiu
Siguino sem intender
Casa dum lado e do outo
Nada tinha pá vender,

Fome sêde e a quintura
Deixou Zé Novo duente
Com uma dô na barriga
Qui chega trincava o dente
Doido pra achar o canto
Qui bota feze de gente

Tinha comprado um jornal
Ia cum ele na mão
Pidiu ajuda dizeno
Tou cum munta precisão
De ocupar um banheiro
Me dêre imformação,

Alguem disse siga enfrente
Dispôs daquela isquina
Vá pelo lado direito
É lá qui a rua termina
Se tiver gente progunte
Qui quarquer pessoa insina

Zé saiu quage correno
Suor frio suor quente
Murmurava aperriado
Isso é canto de gente
Lá im casa é a vontade
Seja sadi ou duente

Cuno chegou no locá
Qui o povo tinha insinado
Abriu a porta e ficou
Oiano pra todo lado
Num sabia onde fazer
O bojo tava tampado.

Utilizou o jorná
E dispôs impacotou
Saiu cunduzino tudo
Du lado qui foi vortou
Passou no mei duma feira
E outra cena topou.

Uma equipe de fiscá
O peso fiscalizano
Pidiu de Zé o pacote
Na balança foi pesano
Você comprô isso aonde
E ele só gaguejano

Diga logo onde foi
Pois tá munto má pesado
Vou processá o cumécio
Você tombem é curpado
Se nun disser eu te prendo
Deixo logo incacerado.

Tremeno disse num sei
Isso é obra meu sinhô
Num tive onde jogá
Num me prenda pur favô
Quero ir pra cajarana
Mas o carro me deixou.

E saiu dali correno
Cum o pacote na mão
Entrou na istrada errada
E subiu num caminhão
Qui ia nouto distino
Mas silivrou da prisão.

Adispôs de três sumanas
Zé Novo im casa chegou
Todo mundo proguntava
Zé, da capitá gostou?
Pensei qui tava impregado
Nem di nós se alembrou.

Qui impregado qui nada
Eu tou todo revortado
Aquilo é lugá de gente
Onde o povo é obrigado
Pesar até o defeque
Ô canto amardiçuado

Gastei tôdo meu dinheiro
Sufri  do jeito do cão
Morro e num conto a ninguém
Pra num haver mangação
Nem descascar a ferida
Eu fui no inferno im vida
Morreno num vou mais não.