No tempo dos meus avós
O sofrimento maior
Era arrancar um dente
Muitos achavam melhor
Curar a dor com meisinha
Passar a noite todinha
Mascando fumo boror
A pimenta malagueta
Machucada na urina
Em uma lã ensopada
Soltava uma fedentina
Queimava muito e ardia
Até dos olhos saía
Faísca como neblina
Peia de fumo torrada
E o leite de pinhão
Com casca de muçambê
Dava uma explosão
O dente esfarelava
O paciente ficava
Tres dias sem refeição
O uso das meisinhas
Era só pra evitar
Um arrancador de dente
Com pé de bode puxar
Cru sem ter anestesia
O povo todo temia
Este pega pacapar
Um dia aconteceu
Que um sertanejo forte
Resolveu tirar um dente
Porém teve pouca sorte
Quando levantou a vista
Lá na casa do dentista
Viu uma sena de corte
Um filho dele que tinha
Deficiência mental
Usou sua ferramenta
Pra cortar seu defecal
Este produto fedia
Ao ambiente trazia
Um desconforto total
Quando o dentista chegou
O serviço interrompeu
Limpou tudo na camisa
E o cliente atendeu
Passou o dedo no dente
Mas o que tava doente
Ele não reconheceu
Havia tres ajudantes
Dispostos a segurar
Cabeça pernas e braços
Para poder suportar
Um dente ser arrancado
Cru sem ser anestesiado
Era pegar ou largar
O pé de bode engatou
No dente que não doía
A força descomunal
Arrebentou a sangria
Quebrou os dentes da frente
Mas o que tava doente
No lugar permanecia
Cinco homens engatados
Rolaram muito no chão
Atravessaram a casa
Quebraram pote e fogão
Esbarraram num chiqueiro
Era no fim do terreiro
Acidentaram um barrão
Quem duvidar desse fato
Faça investigação
Pesquise dos ancestrais
Alguma informação
Se me perguntar não digo
Que o dentista é amigo
Dum neto de Lampião
Autora;HELENA BEZERRA.