segunda-feira, 23 de agosto de 2021

COMODISMO E SOLIDARIEDADE

 

O despertar era ouvindo

Ao amanhecer do dia

Transmitido pelo rádio

Programa de cantoria

Aquelas vozes sonoras

O meu coração enchia.

            

Cada canção que ouvia

Com rapidez decorava

Ficava balbuciando

Quando na roça chegava

Sem errar nenhuma estrofe

A mesma canção cantava.

               

O que me alucinava

Chamando minha atenção

Impulsionou-me a ler

Foi grande a satisfação

Na descoberta de nomes

Em um cordel de cancão.

                   

Com esforço e atenção

Desenvolvi a leitura

Quando descobria um verso    

Gritava em toda altura

Decorava e repetia

Sem entender de cultura.

         

Sempre fazia mistura

Da cartilha e o cordel

Matutava a diferença

Olhando aquele papel

A dúvida ninguém tirava

O desgosto era cruel.

              

Desenhava com pincel

As figuras que gostava

Pra cada uma escrevia

Aquilo que combinava

Ensinava e aprendia

No caderno registrava.

              

A rima associava

Com o som da cantoria

O desejo de aprender

E cantar no outro dia

Imitando os cantadores

Era isso que fazia.

 

Uma paixão que ardia

Saía do coração

Sentia entusiasmo

Com a maior sensação

De fazer versos rimados

Só na imaginação.

 

Por força da emoção

Deu vontade de fazer

A minha primeira estrofe

Movida pelo prazer

Porque a mente mandava

A minha mão escrever.

 

Quando terminei de ler

Fiquei sem acreditar

A musa da poesia

Chegou pra me visitar

Guardei aquele segredo

Sem coragem de mostrar.

 

Resolvi apresentar

A quem tinha entendimento

Aprovado  plenamente

Vibrei de contentamento

Funcionou como tônico

No centro do pensamento.

 

Ali nasceu meu talento

E o gosto de escrever

Nas entrelinhas da vida

Guardava pra não perder

Depois fazia o registro

Só eu que podia ver.

 

Demorei a entender

O que era poesia

Como portadora dela

Sua presença não via

Mas um toque inspirador

A minha mente sentia.

 

Aproveitava e fazia

Alguns versos inspirados

Produzia umas quadras

Colocava nos guardados

Com a expectativa

De ver todos publicados.

 

Mantinha todos guardados

Ia escrevendo juntando

Alguns foram extraviados

Outros a traça cortando

Reunir todos num livro

Sempre vivia sonhando.

 

Resolvi ir colocando

Em um baú de madeira

Todas minhas produções

Era grande papeleira

Sem estímulo suspendi

Parei a minha carreira.

 

A ferrugem fez sujeira

Atrapalhou minha mente

Quando a vontade chegava

Escrevia novamente

Rasgava e jogava fora

Coisa de quem tá doente.

 

A poesia presente

Sentia depois passava

O tempo passou levando

Aquilo que me privava

Voltei escrever gostando

E o baú abarrotava.

 

As vezes até chorava

Pela grana tá distante

Para investir num livro

Que planejava constante

E timidez não deixava

Levar o projeto avante.

 

Tudo mudou num instante

Que uma neta encontrou

O baú de tampa aberta

E a notícia espalhou

Até na própria família

Uma surpresa causou.

 

Alguém se manifestou

Vendo aquela produção

Convidou toda família

Fez uma reunião

Para reunir num livro

Foi unânime a decisão.

 

Com aquela aceitação

E compromisso selado

Formaram uma equipe

Somente um escalado

Pra corrigir e deixar

Cada texto organizado.

 

Todo mundo interessado

Trabalhando com sucesso

Aonde existe união

Intensifica o progresso

Em curto espaço de tempo

Pronto para ser impresso.

 

Alguém que tinha acesso

A editora escolheu

O valor da impressão

Afetou quem escreveu

A família e os amigos

Esse recurso lhes deu.

 

A vitória aconteceu

Por força da união

A vida só tem sentido

Quando há a ligação

Com quem interessa e faz

Mudar a situação.

 

Ganhou a população

Com essa desenvoltura

A obra cordeliana

Enriqueceu a cultura

Na área de educação

Engrandeceu a leitura.

 

O cordel é a figura

Centrada na produção

A editora ampliou

Deixando uma perfeição

Concretizando a espera

Duma realização.

 

Faço recomendação

A todos agraciados

Pelo dom da poesia

Não sejam acomodados

Pra não sofrer como eu

Com os poemas trancados.

 

Os projetos partilhados

Tonifica a alegria

Elimina a timidez

Danifica a ironia

Cada obra produzida

Emana sabedoria.

 

A arte nos contagia

Com corpo e alma inquieta

As trilhas do pensamento

Induz anseio e afeta

Impregnando poesia

Na mente de um poeta.

 

Depois de alcançar a meta

E o livro publicado

Leitores e estudantes

Projeto realizado

Educação e cultura

Com o prêmio conquistado.

 Autoria de Helena Bezerra.