MATUTO NÃO ASSUMIDO
Manezim num aceitava
viver morano no mato
cono fez dezoito ano
foi pedir ao canidato
pra fazer seu documento
foi montado num jumento
chapéu de couro e sapato.
Resolveu tudo num dia
seno exposto a exigênça
seno para viajar
precisa ter paciênça
e a eleição esperar
e o seu favor pagar
com muita eficiênça.
Ficou tudo combinado
cuno a eleição passou
foi pidir sua passage
teve a resposta num dou
entonse eu quero trabaio
o meno um quebra gaio
um disse ele indoidou.
Bateu nele uma revorta
transformano em corage
pidiu a um e a outo
o dinnhêro da passage
no ondo da aviação
se dispidiu do sertão
e siguio sua viage.
Foi isbarrar im são Paulo
mais de três dias passou
infado,fome e cansaço
tanto lhe incomodou
foi na mira dum amigo
que disse te dou abrigo
mais a comida num dou.
Aqui é tudo difice
só fica se trabaiá
tou indo pro meu sirviço
só a noite vou vortá
corra atrás você tombém
qui ninguém é de ninguém
vá aprender se virá.
Ele num tinha noção
do qui pudia fazer
botou a bolsa no chão
cumeçou se arrepender
meu Deus! Eu vim inganado
morto de fome e cansado
sem ter nada pra comer.
Ficou ali sem ação
no outo dia saiu
andano a pé pelas rua
nenhum cunhicido viu
rua a cima rua a baxo
a noite ficou debaxo
dum viaduto e drumiu.
Acordou na madrugada
siguiu noutra direção
pidia pra trabaiá
onde tinha construção
ninguém atenção lhe dava
há passos lentos passava
temendo recramação.
Assim foi duas sumana
todo dia procurano
sirviço e num incontrava
o dinheiro se acabano
comprava um pão por dia
e a água qui bibia
Era economisano.
cono compretou um mês
chorava arrependido
há seu pudesse vortá
pro meu nordeste querido
lá sim é lugar de gente
aqui me sinto duente
pelo que tenho sufrido.
Um intregador de leite
qui todo dia passava
proguntou a manezim
se ele o acompanhava
a fazenda do patrão
tava fartanno pinhão
eu seno você topava.
Ele aceitou o convite
foi logo no bagageiro
pensava consigo Deus
tá usano este leiteiro
sem nada ser pranejado
ele foi apresentado
na casa do fazendeiro.
Dispôs de uvir o leiteiro
a manezim alertou
expôs a sua ixigênça
a precisão ajudou
ele aceitar tudo aquilo
permanecia tranquilo
e a trabaiá cumeçou..
Três mês de experiência
sem receber um tostão
a bóia era garantida
a dormida era no chão
só o domingo folgava
o dia todo lembrava
sua vida no sertão.
cono o praso foi vincido
começou a receber
o salaro todo mês
agradecia por ter
começou a pranejar
uma forma de juntar
pra seu desejo vencer.
cumbinou com o patrão
pra deixar dispusitado
na sua conta bancara
pesso qui deixe guardado
quero cuno for imbora
pruque eu num vejo a hora
de vortá pru meu estado.
Três ano sem tirá féras
todo dia trabaiano
mandou repará a conta
e viu qui dava sobrano
se prepará pra vortá
e a passage comprá
o dia tava chegano.
Tudo certo agradeceu
ao leiteiro e ao patrão
se dispediu da fazenda
com um aceno de mão
e seguiu rumo a cidade
com muita felicidade
transbordando o coração.
Foi direto a uma loja
comprou primeiro a passage
relojo,roupas,calçados
comprou mala pra bagage
pra cada irmão um presente
um gravador bem potente
o suscesso da viage.
Cuidou da sua aparênça
em uma barbearia
usou um liforme novo
e bota preta macia
cavanhaque bem cortado
uma ponxete de lado
e um raido na sintonia.
Cum três dias de viage
as duas da madrugada
chegou a casa paterna
a turma toda deitada
ele na porta bateu
abra qui aqui é eu
não aguento massada.
Foi um fusuê danado
cum mistura de aligria
pruque num dava nutiça
a mãe chorano dizia
meu fio eu tanto chorava
só pruque eu me lembrava
qui você num existia.
Mãeê a cidade grande
é munto movimentada
o corre,corre da gente
ninguém tem tempo pra nada
é outo mundo lá fora
eu num vinha nem agora
mais dei esta cabeçada.
Chiava demais da conta
na casa quele chegava
era uma festa na certa
todo mundo admirava
munta cunversa bunita
inquanto passava a fita
qui o gravador tocava.
Mintia a todo vapor
e o povo acreditano
aqui é munto atrasado
vocês tão é se matano
lá é tudo diferente
desinvorve tanto a gente
a vida é só miorano.
Sem tistimunha de vista
toda mintira colava
disfazia dus parentes
nada ele combinava
por dentro a alma dizia
livra Jesus todo dia
da vida qui tu levava.
O preconceito é um prego
cravado no pensamento
rejeita até a origem
o berço do nascimento
Manezim sofre um bucado
com seu viver atrelado
no mundo do fingimento
Autora: HELENA BEZERRA..