sexta-feira, 21 de junho de 2019




UM MATUTO FÃ DE POLÍTICO


Um trabaiador da roça
Disposto qui nem trator
Tinha uma grande famia
Tudim  era agricultor
Lutava a sumana inteira
No sabo ia pra feira
Saber de tudo o valor

Cuma tem gosto pá tudo
Ele sentia paxão
Pelas campanha pulítica
Pra dá sua opinião
E o candidato iscuiê
Pra seu voto oferecê
No dia da eleição.

No discorrê de setenta
Uma campanha estourou
O raido contava tudo
E aquele agricultor
Seu candidato iscuieu
Obrigava o povo seu
Votar onde ele votou.


Um dia ficou sabeno
Que seu candidato vinha
Inargurá um açude
Que im outo lugá tinha
Ele ficou animado
Ramo trabaiá drobado
Pra nós ir essa festinha

A turma ficou filiz
Deu pulo de alegria
Até um ora da tarde
O só quente qui duía
Ninguém num quis aimunçá
No sentido de andá
O apetite fugia.

As duas ora partiram
Pra chegá antes da ora
Quato légua de distânça
Iam de língua de fora
Serra a cima serra abaxo
Ainda fizero faxo
Dispôs do dia ir imbora.

Tudo a pé camiano
Cum sede fome e suado
Os pés iscorreno sangue
O coipo istrupiado
A noite iscuro trazia
Só tinha um que dizia
Ou passeio disgraçado.

Até que im fim chegaro
Cumprino todo trajeto
Era burburim danado
Ninguém num ficava queto
Com terra solta e poeira
Formaro uma barreira
Difice de chegar perto.

Se acomodaro im pé
Um som roco zuadano
E o pra lá e pracá
Do pessoá isperano
Os candidato chegá
E o cumilso cumeçá
Era só anunciano.

As dez da noite lá vem
Estrondo tremendo o chão
O povo paralisou
No mei da escuridão
Todo minino chorava
E o besourão  baxava
Jogano terra e torrão.

De dento dele saiu
Três ome de palitó
Levantano a mão po povo
Cum a tira no gogó
Um começou a falá
Dizia cuneu ganhá
Tudo aqui vai ser mió.

Paima e viva zuava
Tudo era munto animado
Até qui imfim falou
O candidato isperado
Ai houve foguetão
Preencheu o caminhão
O povo dipindurado.

Prometeu tudo de bom
Energia, água incanada
Trabaio pra todo mundo
Impresto sem pagar nada
Casa pra quem nada tem
E cesta básica também
Já está assegurada.

O ome cum a famia
Qui tanto se isforçou
Para vê o seu canidato
Nem perto dele chegou
Com a voz rouca dizia
Estou esperano o dia
Mode votar com o sinhô.

Terminano o falatório
Disse ele vamo negrada
A viagem é munto longe
Tá munto iscura a estrada
Coidado pra num cair
Esperte pra não drumir
É longe nossa jornada.

Um Xeleléu de pulitico
Disse vou mandar deixar
Tem carro a disposição
Pru eleitor carregá
O nosso partido é forte
Tem gasolina e transporte
A demora é só falar.

Foi tanta felicidade
Fluída naquela hora
Uvino aquela promessa
Maior ainda a demora
A paciência esgotou
Depois o cara chegou
Se ageite pra ir agora.

Lá vem vindo o estremeço
Dum trator véi de esteira
Uma carroça engatada
Incostou numa barreira
O tratorista abusado
Disse vão bem agarrado
Que ainda venho pra feira.

Cone imposição ficaro
O bicho deu arrancada
O engate era três metros
Deixando bem afastada
A carroça do trator
A zuada do motor
Estremecia a estrada.

A voz do home bradava
Como é bom andar de carro
Se num fosse meu pulitico
Nós ia amassano barro
Purisso qui dou valor
Vou morrer seno eleitor
Quem falar dele eu amarro.

A estrada esburacada
Toda de mato coberta
A cipoada na cara
Deixava a mundiça esperta
Maicava o rumo e discia
E nouto morro subia
E o medo em todos aperta.

As sete hora do dia
A viagem terminou
Batêro toda puêra
Ninguém nada recramou
Fôro tudim pro roçado
O véio ficou deitado
Pruque num aguentou.

Os fi quiria dizer
Qui tava cum munto sono
Mais num tivero corage
Fôro trabaiá tombano
Uma ressaca daquela
Ninguém num esquece ela
Mesmo viveno cem ano.


Autora ;HELENA BEZERRA.













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