domingo, 16 de fevereiro de 2020




                   O  DESEJO   DE  BEIJAR.


Pelos anos de setenta
Inda izistia rigô
Os pais cuidava dus fi
Cuma se faz cum robô
As cena mais arrogante
Se via no interiô.

Naciso de Chico Bento
Namorô cum Francisquinha
Ele na sala da frente
E ela lá da cozinha
Jogava o par de bozó
Que outo jeito nun tinha.

Todo dumingo ele ia
Dispôs de incher a barriga
Andava três légua  apé
O calor dava fadiga
Suor discia rolano
Chega fidia a fuimiga

Muntas vêz via de longe
Aquela môça singela
Qui iscuieu pra amar
E apaxonouce purela
Nun via o dia e a ora
Para pidir a mão dela.

Insaiva todo dia
O jeito de infrentá
Os pais pru mode pidir
A mão dela pra casá
Antes ele precisava
A môça cumunicá.

No dia do piditoro
Cuma era do agrado
Butaro os dois na frente
O bê a bá foi traçado
Proguntaro pela casa
E tombém pelo roçado.

Era período de festa
De santo Antôe padrueiro
Todo mundo era devoto
Trabaiava o dia inteiro
A noite ia pra novena
Do santo casamenteiro.

Foi a famia todinha
Nesse dia do noivado
Divido ser munto longe
Fôro de carro fretado
Primeira vez qui o casal
Se assentaro incostado.

A novena rendeu munto
E cumeçou o leilão
A mãe precisou sair
Recumendou o irmão
Tocai aí eles dois
Qui vou oiar um balão.

O muleque ficou colado
Obseivano o casal
O noivo se adiantou
Pensano qui era normal
Beijar a mão da donzela
Por ser noivo oficial.

Cono cumeçou beijar
O muleque inloquiceu
Gritou tão arto que o povo
Pra cima deles correu
Curiosos pra saber
O que foi que aconteceu.

A famia chegou junto
A mãe iguá uma fera
Pensei qui você prestava
Mais a ninguém considera
Perdeu tôda confiança
Casamento aqui já era.

Rebanhou tudo pra casa
O noivo iscapuliu
A mãe dispensou o carro
E o comboio siguiu
Tudo apé no iscuro
Não pudia dá um siu

O castigo foi pra todos
Pela  disobidiênça
O casal recem noivado
Que num teve paciênça
De esperá o casamento
Para beijar com descênça.

O noivo fulo de raiva
Ficou munto incabulado
Foi imbora pra sumpalo
Sem deixar nehum recado
A noiva amargamente
Ingulia esse bucado.

Dispôs qui ele vortô
Fôro iscundido casá
Na hora qui o pade disse
Agora pode beijá
O noivo gritou tá doido
A sogra vai me matar.

Só pra dizer cuma era
Os namôro do passado
As môça casava virge
O respeito era sagrado
Quem avançasse o sinal
Levava surra de pau
Ou era preso ou capado.

Produzido por Helena Bezerra.





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