terça-feira, 27 de dezembro de 2022

O FOTÓGRAFO MÃO PRETA.

 Era assim conhecido

Por causa da profissão

Na época que o retrato

Era feito no sertão

Se fosse pra documento

Quando havia eleição.


Como era inteligente

O agricultor Raimundo

Cansou de puxar enxada

Disse: não sou vagabundo

Eu vou é tirar retrato

E meteu o pé no mundo.


O apurado que tinha

Somou e deu pra comprar

Uma máquina mão no saco

Aprendeu manusear

Pensava consigo mesmo

Agora vou enricar.


O sujeito era disposto

Levando o fardo pesado

As casas eram distantes

O povo liso acuado

Para tirar um retrato

Ninguém era preparado.


Tinha como alternativa

Num bisaco pendurado

Uns bombons para vender

Só não vendia fiado

A mãe que não tinha réis

O moleque era açoitado.


Era sem fins lucrativos

Aquele profissional

Dias comia outros não

A sua meta afinal

Era gastar o estoque

De todo material.


Andou tanto que chegou

Em uma choupanazinha

Encontrou uma senhora

Era bem de manhazinha

Com três meninas chorando

Uma delas bem novinha.


Levou o papo pra ela

Que caiu na emboscada

Pra retratar as meninas

Foi uma luta danada

Quatro horas de peleja

Ficou duas retratada.


Ele era responsável

Pela melhor posição

Instalou a mão no saco

Fez a recomendação

E as meninas com medo

Daquela arrumação.


Recostadas na parede

Pés juntos e mão pra trás

Atrepadas nuns tijolos

Todos eles desiguais

Com fome sede e calor

E o sol quente demais.


Com três metros de distância

A máquina era montada

Em um gancho três pés

O seu formato quadrada

Um buraco grande atrás

Onde a mão era enfiada.


Quando igualhava tudo

Voltava para ajeitar

A posição das meninas

Que começaram chorar

A paciência faltou

Começou logo a brigar.


Quatro horas foi o tempo

Gasto para resolver

Um trabalho cansativo

Que precisava envolver

O fotógrafo e a família

Entravam no desprazer.


As crianças se espantaram

Quando viram a produção

Não se conheciam ainda

Foi choro e decepção

Do fotógrafo não se sabe

Se cresceu na profissão.


Produção de HELENA BEZERRA.








 

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