Era assim conhecido
Por causa da profissão
Na época que o retrato
Era feito no sertão
Se fosse pra documento
Quando havia eleição.
Como era inteligente
O agricultor Raimundo
Cansou de puxar enxada
Disse: não sou vagabundo
Eu vou é tirar retrato
E meteu o pé no mundo.
O apurado que tinha
Somou e deu pra comprar
Uma máquina mão no saco
Aprendeu manusear
Pensava consigo mesmo
Agora vou enricar.
O sujeito era disposto
Levando o fardo pesado
As casas eram distantes
O povo liso acuado
Para tirar um retrato
Ninguém era preparado.
Tinha como alternativa
Num bisaco pendurado
Uns bombons para vender
Só não vendia fiado
A mãe que não tinha réis
O moleque era açoitado.
Era sem fins lucrativos
Aquele profissional
Dias comia outros não
A sua meta afinal
Era gastar o estoque
De todo material.
Andou tanto que chegou
Em uma choupanazinha
Encontrou uma senhora
Era bem de manhazinha
Com três meninas chorando
Uma delas bem novinha.
Levou o papo pra ela
Que caiu na emboscada
Pra retratar as meninas
Foi uma luta danada
Quatro horas de peleja
Ficou duas retratada.
Ele era responsável
Pela melhor posição
Instalou a mão no saco
Fez a recomendação
E as meninas com medo
Daquela arrumação.
Recostadas na parede
Pés juntos e mão pra trás
Atrepadas nuns tijolos
Todos eles desiguais
Com fome sede e calor
E o sol quente demais.
Com três metros de distância
A máquina era montada
Em um gancho três pés
O seu formato quadrada
Um buraco grande atrás
Onde a mão era enfiada.
Quando igualhava tudo
Voltava para ajeitar
A posição das meninas
Que começaram chorar
A paciência faltou
Começou logo a brigar.
Quatro horas foi o tempo
Gasto para resolver
Um trabalho cansativo
Que precisava envolver
O fotógrafo e a família
Entravam no desprazer.
As crianças se espantaram
Quando viram a produção
Não se conheciam ainda
Foi choro e decepção
Do fotógrafo não se sabe
Se cresceu na profissão.
Produção de HELENA BEZERRA.
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