segunda-feira, 25 de março de 2013

OS MEUS PRIMEIROS SAPATOS


Cuma  toda jovem tem
Um sonho a realizá
Eu tinha muita vontade
De um sapato cauçá
Mas tombém nunca pedia
Mode minha mãe comprá

As moças da minha idade
Tinha sapato e chinela
Eu via  e achava bonito
Oiava tanto pra ela
Qui as vez eu tinha vontade
De sê fia da mãe  dela

Minha mãe tinha vontade
De comprá mas num pudia
Meu pai pudia e num dava
Por isso ninguém pidia
Ficava só na vontade
A fia de Abdia

Parece qui cone a gente
Tem vontade um dia aicança
Num é qui uma prima minha
Luxenta desde criança
Abadonou  uns sapato
Qui  eu guardei na lembrança

Num dixe pra seu ninguém
Mas pru arte do distino
Um dia mãe cunversano
Cum ela e eu uvino
Ofereceu uns sapato
Qui num tava mais sirvino

Mãe preguntou e o preço
Dixe ela mil e quiento
Só tem dois ano de uso
De marrom ficou cinzento
Pruquê istava dibaxo
De um saco de cimento

Minha mãe vendeu um bode
E tombem umas galinha
Duas nuvia de cabra
E uns trocado qui tinha
Deu tudo nesse sapato
Para   alegria minha

Era todo de burraxa
Bico chatu isburacadu
Num tinha mais sua caxa
Era num saco guardado
Pois fiquie munto filiz
Cum o premo desejado

A alegria foi tanta
Qui cumer eu nun quiria
Passei a noite acordada
Pois drumi num consiguia
E pra cauçar us sapatus
Estava aguardando o dia

Foi numa missa im Jondia
Qui eles inaugurei
Mermo isquentano nus pés
Cum munto prazê fiquei
Oiava tanto pra eles
Qui a missa nem liguei

Cumo era fora demoda
Chamava munto atenção
O meu jeito de andar
Mudou toda posição
Mermo sem ter sarto dava
Foi num foi um trupicão

Aquelas moça da moda
Deu cumeçaro mangá
Fiquei munto imcabulada
Num canto fui me sentá
E us meus pés inxou tanto
Qui quage num pude andá

Levantei pra ir embora
Butei todus dois na mão
Im cada pé fez três calos
Foi grande a inflamação
Levano  só e poeira
Do Jondia pru Latão

Num dixe nada a ninguém
O qui cumigo passava
Fui tratá dus ferimentos
Qui pouco a pouco sarava
E pra cauçar us sapatos
Novamente eu esperava

Logo mais aconteceu
Minha colação de grau
Ao terminá o primaro
Houve uma festa legau
Ai dinovo uzei eles
Pra curti o festivau

Já tinha vinte um ano
Cone isso aconteceu
Pra terminá o primaro
Foi grande o esforço meu
Junto cum minhas irmãs
Qui istudava mais eu

Cone fui  dançá a varça
O passo num acertava
Us pés do meu paraninfo
De quando im vez maxucava
Toda angusta sentia
E a varça num terminava

Antes de findar a varça
Ouve bala no salão
Ocorre corre foi grande
Naquela ocasião
Ai perdi meus sapatus
E vortei de pé no xão

Realizei o meu sonho
Mas devido a esta cena
Não sou de opinião
Mai vi qui num vale apena
Nunca mais cauçou sapato
Esta poetisa Helena.

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